Especialista alerta sobre a necessidade de construir segurança psicológica em tempos de incerteza
O mês de maio é dedicado, em quase todos os países do mundo, ao trabalhador. A data remonta ao dia 1 de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de conquistar condições melhores de trabalho. Essa manifestação abriu espaço para diversos outros debates que resultaram na conquista de uma série de direitos. Entretanto, a luta por espaços mais humanos ainda continua.
Após alcançar jornadas de trabalho mais justas e direitos estabelecidos por lei, agora os trabalhadores esperam ambientes de trabalho que se comprometam com a saúde física e mental. Com a pandemia, o debate acerca da necessidade de se promover a segurança psicológica se acentuou e a preocupação com o estado emocional dos funcionários acelerou: o que poderia levar algumas décadas para ocorrer tornou-se prioridade antes mesmo da pandemia acabar.
A insegurança psicológica está muitas vezes por trás de prejuízos monumentais porque, para evitar se expor, colaboradores se calam diante de riscos iminentes. “Basta trazer à mente acidentes de grande impacto envolvendo organizações renomadas, esses acidentes costumam ser multifatoriais e parte das variáveis foi identificada por indivíduos ou equipes anteriormente”, aponta Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência. A mestre em psicologia afirma ainda que “a cultura do silêncio é responsável pela queda de ações, pela evasão de recursos, pela perda de clientes e, em casos extremos, pela perda de vidas”.
Buscando combater esses prejuízos, recentemente, a Rede Brasil do Pacto Global da ONU lançou, em parceria com a agência de comunicação InPress Porter Novelli e a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), uma iniciativa chamada #MenteEmFoco, que busca incentivar empresas a promoverem a saúde mental dos colaboradores e a reconhecer a importância do bem-estar no ambiente de trabalho, bem como a agir em benefício de seus colaboradores, e da sociedade como um todo, para combater o preconceito social acerca do tema.
Entrando no barco
A #MenteEmFoco já conta com a assinatura de gigantes como Ambev, Unilever, Hospital SírioLibanês, UPS, Grupo Conexa, Mapfre e Afya Educacional. Mas não são só eles que sabem os benefícios de um ambiente de trabalho seguro. Em locais que promovem a saúde mental e bem-estar, profissionais e times alcançam performance superior. E a Google entende bem disso.
Com o chamado “Projeto Aristóteles”, a multinacional acompanhou 180 de seus times durante 2 anos para identificar “o que constrói uma equipe perfeita”. O estudo estabeleceu como principal componente a segurança psicológica. “Os membros de uma equipe se sentirão psicologicamente seguros quando compartilharem a crença de que não serão expostos a ameaças interpessoais ou sociais a eles próprios, sua posição social ou sua carreira”, descreve o estudo.
O Aristóteles trouxe ainda uma constatação: a segurança psicológica diferiu enormemente entre as equipes, estando associada, em menor ou maior grau, aos diferentes perfis de liderança da companhia. “Esse estudo, trouxe clareza quanto à necessidade de se estabelecer uma cultura organizacional de segurança psicológica, com capacitação e estímulo para que os gestores de todos os níveis hierárquicos cocriem, nutram e encorajem sua prática”, explica a fundadora do instituto Feliciência.
Por isso, é necessário criar protocolos que garantam a saúde mental dos trabalhadores e permitam que eles possam se sentir à vontade para ser quem realmente são no ambiente de trabalho. Pensando assim, a iniciativa da ONU exige compromissos claros por parte das empresas participantes, como ter um profissional de referência para aconselhamento dos funcionários, oferecer orientação e administração de crises, garantir a avaliação permanente dos colaboradores e manter gestores engajados, com treinamento para que sejam agentes de transformação e de promoção da segurança psicológica.
O que é Segurança Psicológica?
“Segurança psicológica é definida como a capacidade de se mostrar e posicionar sem medo das consequências negativas para auto-imagem, status ou carreira. Ou seja, as pessoas sentem-se confortáveis para propor novas ideias sem serem julgadas, sentem-se seguras para mudar de ideia ou discordar e sabem que está tudo certo em correr riscos, pois a cultura de feedback contínuo facilita a correção de rota”, explica Carla Furtado, mestre em psicologia e fundadora do Instituto Feliciência.
Em um ambiente psicologicamente seguro, os indivíduos se manifestam, compartilham suas opiniões e ideias abertamente, assumem riscos, admitem falhas, aprendem com as falhas e têm discussões honestas e abertas. Já locais de trabalho onde não há segurança psicológica podem experimentar perdas cumulativas: “Há, comprovadamente, maior rotatividade, afastamentos, redução no engajamento da equipe”, exemplifica a especialista.
Além disso, a segurança psicológica é um fator associado ao sucesso de um negócio. “A empresa de animação digital Pixar afirma que uma de suas práticas de sucesso é proteger as ideias para novos filmes ou o que chamam de ‘ugly babies’ (bebês feios, em tradução livre). A Pixar acredita que críticas precoces podem interromper o processo criativo e que toda obra de entretenimento um dia foi um ‘bebê feio’. Como resultado, a companhia acumula dezenas de premiações, entre Oscars, Globos de Ouro e Grammy Awards”, conta Carla.
Fonte: https://www.mundorh.com.br/a-importancia-de-um-ambiente-de-trabalho-psicologicamente-seguro/