Em novo artigo, Gabrielle Botelho comenta as tendências apontadas em relatório do Fórum Econômico Mundial
Mesmo antes de toda a mudança trazida pela pandemia, já estávamos passando por uma fase de profunda transformação devido à chamada 4ª Revolução Industrial, com processos crescentes de automação e digitalização nas organizações. A pandemia acelerou, e muito, essa transformação e nesse contexto observamos a necessidade de mudança de comportamento e desenvolvimento de novas habilidades, para sermos capazes de cuidar não só da manutenção de nossos negócios, mas também de projetarmos um futuro, mesmo nesse cenário de grande incerteza e pouca previsibilidade.
Todos os anos, o Fórum Econômico Mundial divulga o relatório The Future of Jobs, que traz as tendências do mercado de trabalho globalmente. Há uma previsão de que 75 milhões de empregos serão deslocados devido à automação e integração tecnológica nos próximos anos, o que aumenta as preocupações com desemprego em larga escala e crescente desigualdade de renda. Contudo, a boa notícia é que a transformação também criará demanda para um número estimado de 133 milhões de novos empregos, com novas oportunidades para satisfazer o potencial e as aspirações dos profissionais.
Pensando nessa transformação, o último relatório, publicado em 2019, traz as dez competências mais valiosas até 2022, abaixo relacionadas. O relatório também menciona que quase metade das habilidades essenciais mais demandadas hoje irá mudar rapidamente. Logo, é importante que você esteja atento e disposto a repensar sua carreira, para continuar atrativo nesse mercado tão volátil.
1 – Pensamento analítico e inovação
Os profissionais que têm a capacidade de “analisar situações desafiadoras e apontar soluções inovadoras” serão cada vez mais cobiçados pelas organizações. Nessa competência, a inovação é apresentada como resultado da capacidade de análise, ou seja, investigar um problema, identificar todas as suas nuances e conseguir propor uma solução que gere inovação.
Para o desenvolvimento de qualquer competência, é necessário investir tempo na criação de um novo hábito. No caso do pensamento analítico, o hábito da leitura é essencial, pois cria uma compreensão mais ampla sobre a sociedade e seu funcionamento.
2 – Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem
Com bilhões de pessoas conectadas, a geração de conhecimento nunca esteve tão acelerada e com uma imensa quantidade de dados disponíveis. Dessa forma, não há espaço para a falta de autonomia e passividade no que tange a adquirir novos conhecimentos e se desenvolver profissionalmente. Não é mais aceitável esperar que a empresa ou a liderança assuma esse papel por você. O chamado lifelong learning, ou aprendizado contínuo, nunca foi tão importante.
Não existe apenas um caminho para o aprendizado. Sendo assim, o primeiro passo é identificar de que forma você aprende melhor: lendo? Escrevendo? Escutando?… É importante que você identifique a melhor forma de se atualizar como, por exemplo, através da leitura, audiobooks, podcasts, blogs, cursos, congressos, grupos de estudo e trabalhos voluntários, entre outros, e defina uma estratégia clara, que permita sintetizar o conteúdo de forma contínua e rápida.
3 – Criatividade, originalidade e iniciativa
A combinação e sequência dessas três palavras demonstra o que se espera dos profissionais. Tanto antes quanto agora, desafios só podem ser alcançados com criatividade, originalidade e iniciativa. Para sermos capazes de inovar, precisamos da curiosidade (caráter individual) e de espaços criativos que estimulem o processo criativo (âmbito organizacional). Resumindo, não basta ter uma boa ideia, ela precisa ser original e você precisa demonstrar energia e iniciativa para implementá-la.
4 – Design e Programação de Tecnologia
Tanto a área de Programação quanto a de Design ganharam um valor expressivo no mercado, e as organizações têm buscado cada vez mais profissionais com esses conhecimentos técnicos. Contudo, para profissionais de outras áreas, talvez, saber programar não seja relevante, o importante é entender o raciocínio por trás da programação, ou seja, como resolver um problema de maneira lógica e com múltiplos caminhos, através da chamada rota de solução.
5 – Pensamento crítico e analítico
O pensamento crítico ou científico consiste em analisar as afirmações consideradas como “verdades” em nosso cotidiano, já a capacidade analítica é uma forma de pensar que faz a decomposição dos fatos, promovendo uma análise profunda.
No ambiente organizacional, muitas vezes nos vemos pressionados a tomar decisões rápidas. Contudo, mesmo “correndo contra o tempo”, é importante questionar e repensar alternativas para tomarmos decisões somente após uma análise crítica dos fatos.
6 – Solução de problemas complexos
A capacidade de resolver problemas tem sido por muito tempo um indicativo do nível de inteligência e constitui uma competência importante para as organizações. Isso porque a resolução de problemas é um processo altamente cognitivo que requer a identificação do problema e possíveis formas de solucioná-lo, gerando ações e a coordenação de esforços para sua conclusão.
Existem inúmeras ferramentas que podem ser utilizadas na resolução de problemas, entre as quais, destaco: Brainstorming, Gráficos de dispersão, Histograma, Diagrama SIPOC, Diagrama de Causa e Efeito, Cinco Porquês, Plano de Ação 5W2H e PDCA.
7 – Liderança e influência social
A liderança para o futuro ganha uma conotação menos técnica e mais comportamental. Ela exige que os líderes não só conduzam, desenvolvam e preparem pessoas, mas que os influenciem a tomarem decisões que sejam não só as melhores para o negócio, mas também sustentáveis, visando ao bem coletivo.
A chamada liderança por influência é exercida sem autoridade ou poder, prevê relações sustentáveis e benéficas tanto para organização (ambiente interno), quanto para a sociedade em geral (ambiente externo).
8 – Inteligência emocional
A inteligência emocional (IE) é a capacidade que nós temos de controlarmos nossas próprias emoções, não sendo levados por impulsos, e também a forma como lidamos com as emoções dos outros. A IE envolve um conjunto de habilidades emocionais como autoconfiança, coragem, paciência, persistência, autoconhecimento, resistência à frustração e empatia. A IE é fator-chave para estabelecer uma liderança saudável, pois, antes de gerenciar pessoas, é necessário gerenciar a si mesmo e as suas emoções. Para Daniel Goleman, estudioso do tema, o que diferencia um excelente líder é a inteligência emocional, que ele define como sendo um grupo de cinco habilidades: autoconhecimento, autorregulação, motivação, empatia e habilidade social.
9 – Raciocínio, resolução de problemas e ideação
O princípio básico explorado na nona competência é de que nada adianta pensar, refletir, questionar as situações que se apresentam, se não conseguimos colocar em prática nossas ideias. A resolução de problemas complexos aparece como sexta competência mais importante, então, aqui, a parte da ideação que é a grande fonte de solução de problemas será o foco. É no processo de ideação, criação de ideias, que problemas ou conflitos são resolvidos. Este processo não é somente individual, na verdade, a cocriação de ideias ganha cada vez mais relevância nas organizações. O design thinking é uma abordagem amplamente utilizada, que contribui para a solução de problemas e no processo de ideação, que é uma das etapas mais importantes do processo.
10 – Análise e avaliação de sistemas
A análise de sistemas é um método de solução de problemas que envolve analisar o sistema de maneira macro, separar as partes e descobrir como ele funciona para atingir um objetivo específico. Mas você deve estar se perguntado: o que é um sistema? Um sistema é um conjunto geral de peças, etapas ou componentes conectados para formar o todo. Por exemplo, um sistema computacional contém processadores, memória, caminhos elétricos, uma fonte de alimentação, etc. De uma forma diferente, um negócio também é um sistema, que é composto de métodos, procedimentos e rotinas. A parte de avaliação de sistemas é explorada de uma maneira mais genérica, reforçando a importância de monitorarmos e avaliarmos continuamente nossos processos e atividades com o objetivo de sempre buscar o melhor resultado.
Ao analisarmos essa lista de competências, percebemos que existe uma demanda crescente por competências digitais, assim como competências emocionais. Nas organizações, quando falamos em competências digitais, pensamos em como acelerar o desenvolvimento do “pensar” digital, que significa a integração da tecnologia com uma mudança de mentalidade, trazendo melhoria contínua para nossos processos e ambiente de trabalho. No que tange as competências emocionais, o grande desafio é como cuidar das nossas emoções, de forma que essas sejam catalizadores do nosso potencial e não inibidores do nosso crescimento profissional e pessoal.
Além das competências, é importante entendermos como será o futuro do mercado do trabalho. No relatório de 2020, discutiu-se as profissões do amanhã e o surgimento de novos clusters de profissões, onde temos cinco principais áreas: IA e Ciência dos dados; Engenharia e Computação em nuvem; Pessoas e Cultura; Desenvolvimento de Produtos; Vendas, Marketing e Conteúdo. Além dessas cinco principais áreas, há um crescente interesse e investimento pelas áreas de Economia Verde (sustentabilidade e meio ambiente) e Economia de cuidados (saúde e bem-estar).
Falar sobre o futuro do trabalho ou as competências que o profissional do futuro precisará desenvolver é sempre um desafio, pois o mundo em que vivemos está em constante transformação. Contudo, mesmo nesse cenário de incerteza, podemos afirmar que algumas competências serão sempre muito valiosas em qualquer organização: sua curiosidade e capacidade de aprender, e aprender rápido!
*Gabrielle Botelho é diretora de RH para América do Sul da CGG
As opiniões expressas neste artigo não representam necessariamente as opiniões do empregador da autora
Foto de abertura: Otto Apenburg
Fonte: https://www.gestaoerh.com.br/pt_br/artigos/7894-as-dez-competencias-mais-valiosas-ate-2022