Aceitar um novo desafio nem sempre é uma tarefa simples, ainda mais para quem está em mais de um processo ou ainda empregado. Veja como decidir
Por Isis Borge, colunista de VOCÊ RH
Com o mercado retomando aos poucos, é comum os profissionais estarem em mais de um processo seletivo e na dúvida sobre qual é o mais interessante. Isso é compreensível, pois muitas vezes, ao longo do processo, é difícil ter uma visão ampla sobre o gestor, a empresa e a cultura da organização. A dúvida é ainda mais presente em pessoas que estão empregadas, no sentido de entender se vale a pena mudar de emprego ou permanecer onde está.
A forma de tomar a decisão sobre o que fazer é muito particular. Mas, como é um tema que muitas pessoas me perguntam, decidi escrever esse texto com o que acredito e, geralmente, recomendo para quem me procura nessa situação de dúvida.
Consulte a sua razão
Eu gosto de tomar a decisão com base na razão, de uma forma mais lógica e talvez essa minha forma de ver as coisas possa te ajudar. Sugiro que você faça uma lista do que valoriza em uma empresa, como por exemplo: setor, perfil do gestor, localização, flexibilidade sobre o home office, contatos internacionais para utilização de idiomas, oportunidades de poder um dia ser expatriado, perspectiva de crescimento, códigos de ética bem estruturados, responsabilidade social, salário e plano de saúde que contemple os dependentes legais, entre outros pontos.
Classifique suas prioridades
Atribua pesos, de 1 a 3, para cada um dos itens que surgirem na sua lista. Sendo 3 para o mais importante e um para o de menor valor. Divida uma folha em colunas verticais. A primeira é destinada à lista de itens que você valoriza, com as respectivas pontuações. As demais devem ser nomeadas com a marca das empresas, a atual e as que você pleiteia trabalhar. A ideia é que você possa avaliar os benefícios oferecidos por cada uma e quantos pontos esse pacote representa. Ganha a empresa que marcar mais pontos. É uma forma bem racional de analisar cada cenário e tomar a melhor decisão.
Questione-se
Se a decisão for sair da sua empresa atual, não deixe de se questionar antes de concretizar a decisão. Porque você quer sair de onde está? O que pode ter em um outro local para compensar a mudança? Ter esses pontos em mente de forma bem clara vai ajudar a avaliar se a proposta está realmente alinhada ao que você quer e precisa.
Um exemplo para esse caso. Imagine que o profissional quer um escopo maior de atuação. Hoje, ele cuida da área industrial e gostaria de ter logística, supply chain ou compras também sob sua responsabilidade. Antes de começar a buscar uma nova oportunidade, seria válido que ele marcasse uma conversa com o gestor direto ou algum diretor da empresa onde está para entender quais são as oportunidades futuras na empresa. Expor, nessa conversa, que gosta muito da empresa e que sente falta de mais desafios.
Essa conversa seria um ótimo caminho para mapear as chances de um plano de carreira de médio prazo, além de entender quais são os pontos que precisam ser trabalhados para que o projeto vire realidade. Talvez, nesse bate-papo o profissional descubra que é apenas questão de tempo para que seu sonho se realize ou alguns ajustes na rota, como a realização de um curso, que pode acelerar o processo.
Aja com discrição
Porém, se após essa conversa, o profissional perceber que não existe possibilidade de concretizar seus planos em um espaço de tempo que julgue confortável, pode ser mesmo hora de avaliar o que existe no mercado de trabalho. Um ponto muito importante: não conte para nenhum par de trabalho nem gestores que você cogita sair da empresa. Também não recomendo que você comente com pessoas da companhia que está participando de um processo seletivo. O risco é muito alto e não compensa. O melhor é só compartilhar a informação no momento do pedido de demissão. Neste caso, o seu gestor direto deve ser a primeira pessoa a receber a notícia.
Tenha clareza quanto às ambições
É importante lembrar que é difícil migrar de empresa e, ao mesmo tempo, aumentar o escopo de áreas. Na maior parte das vezes, as pessoas conseguem migrar em cargos similares e, nesses casos, vale investigar se a nova empresa é uma organização que possibilita oportunidades de crescimento e movimentações internas. Você pode fazer isso avaliando os históricos dos principais executivos que estão lá. Normalmente, quanto maior a empresa, mais cadeiras disponíveis ela vai ter. Mas, dependendo da cultura da companhia, o organograma pode ser mais engessado.
A migração com aumento do escopo, em geral, acontece em casos de profissionais que fazem a movimentação de uma empresa grande para outra de um porte um pouco menor. Nesses casos, para atrair um bom profissional, a moeda de troca costuma ser um escopo maior. Mas vale sempre olhar o tamanho do P&L (Profit and Loss Statement) e do orçamento da área. Às vezes, um gerente em uma empresa grande cuida de um P&L de 100 milhões e ele pode ter uma oportunidade para ser diretor com um P&L de 20 milhões. Ou seja, apesar do título do cargo, o escopo está bem menor. Atenção a esses pequenos detalhes que ajudam na tomada de decisão.
Às vezes, é possível pedir garantias ao futuro empregador
Outra pergunta bastante comum está relacionada a como ter segurança ao abrir mão de anos de casa em uma empresa conhecida e estável para atuar em outra menos famosa ou que acabou de ser comprada por um fundo de investimentos, por exemplo. Esse tipo de troca sempre gera incertezas. E são pontos que devem ser esclarecidos no momento da proposta.
Para cargos da alta liderança, nesses casos, é comum a negociação de “luvas de entrada” ou de “hiring bonus”, em inglês. Vale a pena explorar se é possível ter esse tipo de contrapartida, que garante ao profissional, no primeiro contracheque, um valor em dinheiro para cobrir o risco da mudança. Em casos de fundos de investimentos, se a contratação for para um cargo de diretoria vemos, em alguns casos, negociações em que o novo diretor contratado tem um contrato registrado em cartório que prevê um percentual de remuneração, caso a empresa seja vendida.
Existe, ainda, o chamado “contrato paraquedas”. Nele, pode ter, por exemplo, o seguinte acordo: “Vou trocar a estabilidade de estar na minha empresa atual há dez anos para ir para esse novo desafio sabendo que a empresa pode ser vendida a qualquer momento por fazer parte de um fundo. Para isso, se ela for vendida em menos de um ano, eu ganho no momento da venda dez salários adicionais por exemplo. Se ela for vendida em até dois anos, ganho oito salários; em até três anos, seis salários; em até quatro anos, três salários. Após esse período, eu já não ganho nenhuma contrapartida.” Isso minimiza muito os riscos. Todos esses pontos de estabilidade versus o cenário de novos aprendizados e empresa já conhecida versus uma companhia que não sabemos se vai dar certo devem ser levados em conta na tomada de decisão.
Fuja de contrapropostas
Uma vez decidido, lembre-se de ser firme na hora de pedir demissão e seguir adiante para o novo desafio. Atenção ao conto da contraproposta, que é muito comum para profissionais que estão há algum tempo na empresa. É quase certo o recebimento desse acordo. Mas, a partir do momento que você contar que se abriu para ouvir o que o mercado tem a dizer, a sua relação de confiança com a empresa já estará abalada. Então, estruture bem o seu pedido de demissão e parta para o seu novo desafio.
Espero ter ajudado com essas recomendações. Desejo que você sempre se guie por boas decisões!